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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sexta-feira, 23 de julho de 2010









Divulgação
"O efeito espacial começou a afetá-lo cada vez que passava por uma crise existencial e de depressão, a metamorfose vinha onde estivesse, em casa, no trabalho, na rua, no porão, na despensa comendo queijos."

O autor blogueiro


"Qualquer semelhança entre homem e rato, é mera coincidência." - (frase atribuída a um rato)

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Meninos, tênis e celulares


É você, câmbio – o radioamador tentava falar com o filho. Não perdia o jargão do seu passatempo. O dispositivo em baixo tom vibrava no bolso a musiquinha preferida do pai, mas o filho... bem, o filho estava defronte a uma loja de calçados, embevecido diante da vitrine, nem aos carros ouvia, quanto mais o celular do pai.
A loja iluminada em tons amarelos e verde deixava à mostra a mercadoria e os sonhos dos meninos. O tênis novo. Já tinha um velho, que ganhou do tio ou da mãe, não sabia bem – eram tantos que tinha e tantos que jogara. Mas aquele era novo. Pensou sem perder o olhar de vista. Aquela corrida até ali com o skate, era um menino de ação, de corpo sarado, mas tinha de correr, voar, como se tivesse asas nos calcanhares. A sensação de poder, de ultrapassar os limites do tempo-espaço e isso se confundia com o cheiro de um calçado novo de loja. Sentia uma vibração, uma comichão e, ah, o celular. É o pai, “acordou”; mas ao atender já tinha desligado. Esgotara os créditos na tentativa e o menino não atendeu. De quê adiantava esse aparelho?! Desabafou o pai para si mesmo. O filho só o usada para brincar, ver horas, fazer cálculos, tirar fotos, exibir e mal atender, nada mais. O comprara para acompanhar mais a vida do filho, mas não melhorara em nada a relação dos dois.
Aquele tênis ali, um da ponta, com solado luminescente, amortecedor e...,um detalhe, era muito caro. Um salário mínimo. Hum, mas aquela corrida pelo calçamento, ia voar com ele. Se o comprasse não o tiraria mais dos pés. Estava já anoitecendo e ainda não retornara o chamado do celular ao pai – este sem crédito. Um coleguinha da escola passou por ali e olhava também. Reconheceu o pivete de chinelas e espichando os olhos ao “seu” tênis. Decerto aquele tênis não era para pobre e distanciou-se do colega para não pegar mal à sua imagem. O menino pobre olhava e de repente tocou o seu celular, atendeu e passou ao menino rico – é seu pai. Meu pai? Redarguiu o menino rico – ele não ia ligar para você, né, tem meu número.
Enquanto discutiam foram rendidos por dois assaltantes – aí, meu, vai passando os celular rapidinho. O menino pobre passou o seu celular velho. Os ladrões roubavam o tênis do menino rico, fazendo-o descalçar. Nisso o de chinelas saiu num pique, descalço, quase voando e o outro ficou parado, com o tênis na mão ainda. Os ladrões levaram os pisantes, o celular novo e deixaram o celular velho para o menino rico – isso é pra você. Assustado atendeu por fim – Papai?... Do outro lado, um homem fingindo paciência o saudou – Oi, filho, vamos comprar um tênis novo, hoje?
- Não, pai. Preciso caminhar um pouco.
Pegou as chinelas deixadas pelo menino pobre e foi jogar uma pelada na rua.

Um comentário:

  1. Oi Camilo,

    Você casou-se e abandonou os amigos? Cadê você que nunca mais apareceu para dizer um oi? Estou esperando sua visita, porque eu gosto dos seus comentários, dá uma passadinha lá, afinal somos ou não somos ainda amigos?

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