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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 11 de dezembro de 2010


Divulgação: Grato ao amigo Benedito Jorge Bejota pelo comentário sobre o livro A menina do Bairro Fria, a minha menina. Parabéns a Luzia Stocco, autora do livro e de um poema escolhido pela Editora Escortecci para publicação junto com outros cinquenta ganhadores do concurso. A Luzia concorreu com O crime, vide em seu blog htt://literarteluziastocco.blogspot.com. Feliz Natal a todos e degustem o texto, podendo comentar ou mesmo criticar.

Abraço a todos.

Turistas do advento

Dois turistas se encontram na Itália.
É brasileiro também! Saudades do Brasil.
Não, saudade (nostalgia) do que poderia ter sido, pois o também brasileiro é vizinho da minha rua!
Mas você aqui!
“Pois é, vim fazer umas comprinhas, veja essa roupa e o preço!”
Mas... (não disse a ele, mas lá na nossa rua tem uma loja que vende as mesmas peças e mais barato).
É o medo. Até do bom-dia inusitado, logo se pensa quanto custa; a delicadeza virou sinônimo de efeminado. A saudade que já era coisa de mulher para os machistas, hoje é coisa de poeta e de coração mole somente. Para se dar um sorriso tem de se verificar se escovou os dentes, se não está banguela e se não comeu alho; o cheiro honrado do suor é feio, mesmo aos que estão em atividade física de trabalho - se for esportista sarado, tudo bem. Os cumprimentos de mãos escorregam para as pontas dos dedos somente, sem levantar os braços, as glândulas sudoríparas podem influir negativamente. O olhar é periférico, o olhar nos olhos também amedronta.
Nos tempos de antanho ao se mudar para uma localidade, mesmo ermo, o vizinho vinha com rodos, vassouras e baldes ao morador novo que nem sempre os tinha pelos transtornos da mudança. Se faltasse alguma coisa, esquecida, como lamparina ou cobertas limpas ia-se buscar na casa ao novo vizinho. Não raro os vizinhos pegavam na vassoura e rodos para ajudar, emprestavam ferramentas e animais. Quando nascia uma criança era alegria e a promessa de quem seriam os padrinhos do futuro vivente dava um clima de união e expectativa natalina, eu nasci nesse meio, mas o progresso...
Lembro-me do turista vizinho meu, minha casa também bota medo, acho. Passava ele como todo dia de manhã, com dois ou três bons-dias. Eu sempre às voltas com leituras de coisas já lidas (uma correção interminável, deixa estar...), enquanto um mundo circunvizinho se descortinava ao sol. Eu também sou um turista em casa, e uma criança nasceu na minha rua bem no natal, que ironia! Eu nem soube. De repente se veem mães com carrinhos de bebê, sem as ver mais gordas. São vizinhos. O vizinho das roupas caras contou-me. Mas a Europa é longe, nem todos têm net, tempo ou disposição para felicitações de um estranho da Itália como eu; por certo, não conhecem minha cara e me julgariam como mais um spam. Mesmo assim e por antecipação feliz natal a todos, quem sabe até lá nos conheçamos.
Publicado no A Tribuna Piracicabana em 11/12/10

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