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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Amigos, o texto de hoje é sobre a chuva de quem não foi alagado. A natureza fala-nos e quando vemos pela TV inundações, reconhecemos que tratamos mal a natureza, que devolve tudo. Por isso trate-mo-la bem. Leia a sinopse do meu livro no final deste texto e comente se quiserem.

O blogueiro



Chuvas de janeiro


Choveu a noite toda. Choveu mesmo. Como saída de uma rosca sem fim, que deixa os asfalto mais preto e brilhante e o andar prudente, fugindo às poças. Se sair vou me molhar, então melhor ouvir o tempo. Mas agora a cadência harmônica dela ressona no telheiro limpo e uma gotinha aqui ou acolá bate buliçosa em sustenido em meio ao coro de chuvinha, mas que molha o pedestre desprovido de seu guarda-chuva. Ressoa na calha, num eco, terna e constante num acorde próprio de Deus. Como se a chuva toda estivesse no vazio dessa gota, no eco úmido do meu corredor, preguiçosa e infindável. Volto a dormir.
Depois da constante chuva noturna, a água ainda escorre pelo quintal sulcado pela correnteza e borbulhando em buracos de formigas. Divina música! A melodia, sua cadência ou quais gotas dos dedos de Deus respinga - infinitas ou é a mesma? Sim, ela prevalece dentre muitos sons domésticos no café da manhã, ainda depois da chuva, tilintando no acaso em algum lugar.
Volta a chuva, matutina, abundante de um céu que parecia ter dado tudo de si, mas vem depois de uma peneirinha fina e os pingos em oitava acima já, como o segundo coral, depois para numa reflexão, parada momentânea e vem como a nona sinfonia de Beetoven e chove à vontade até parar novamente e... os respingos depois, alguém que chora por dentro. Sem som, somente a vibração de cordas surdas.
Esses pingos são verdadeiras criaturas, digo pingos, não pedaços de chuva. É um corpúsculo, um ente. Os vejo redondinhos e transparentes, límpidos, que crispam quando se quedam ou descem ao chão, às coisas disformes e líquidas como os sentimentos, às sensações de um observador efêmero como o homem ou de um alagado ribeirinho, à alma da natureza, e a água do meu copo é mera ressonância do meu muito obrigado. Quer um gole?

Publicado nA Tribuna Piracicabana em 29/01/11
SINOPSE
A história se passa num seminário grande, de dois andares, um casarão antigo de frades. A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Adelmo é tido por suicida. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes, os corpos são encontrados de manhã caídos no jardim sob a sacada. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga, de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou em sua vida e talvez nem você.
Camilo Irineu Quartarollo
Preço de capa: R$ 23,00
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sábado, 22 de janeiro de 2011

Amigos, já moraram em algum casarão? O texto hoje é sobre. Eles não tinham as trincas que os de hoje têm, porque o cimento armado é muito rígido, o saibro e as massas de antigamente eram mais plásticas, como o texto que quero apresentar-vos. Abraço a todos e leiam a sinopse de O Seminário no final. Grato.


Casarões
Na cidade têm muitos por aí, esparsos, em meio aos arranha-céus, abandonados. Quando nem se percebe se os vê em esqueleto a céu aberto, em demolição suspensa, pendente de algum inventário. De quem é? Hoje de manhã estacionei meu carro em frente a um deles, em pleno centro da cidade. O baita estava para ser derribado. Fiquei olhando as portonas de tranca de madeira, os janelões com molduras dos pedreiros de antigamente, que assentavam aqueles tijolões enormes, que nenhum olaria fabrica mais. Salta aos olhos aquela planta baixa em tamanho natural, na qual pude pisar. Na marca do primeiro degrau da escada, pus o pé e tirei, o patamar já não existia, era devaneio subir uma escada invisível, mas subi ao andar superior, a uma sacada de observador feliz. Na sacada suspensa, na vertigem dos meus olhos via lá embaixo, pequenos, carros antigos e transeuntes de cartola e bengala, vivos.
Nas paredes internas todas derribadas e somente os alicerces demarcam os antigos cômodos. Uma família vivia ali. Quase ouvi um choro de criança no quarto do filho menor, pegado ao quarto do casal. A marca do fogão à lenha e a fumaça que ficara na parede ainda em pé, com um risco de carvão. O chão, sim, a parte do piso que não tiraram, era um ladrilho antigo de motivos vermelhos e verdes, bonito e de muita história. Voltei para sair e pisei naquele chão inda úmido do sereno da casa e acima um céu risonho com pássaros em suas circunvoluções. O telhado da casa?! Meu Deus! Tiraram-lhe o tampo! Era um quadrilátero vazio.
Nada mais do que já fora um lar. Imaginava um telhado invisível, alto e as pessoas que ali viviam. Quando se habita uma casa, um ambiente familiar, não se percebe a fragilidade da vida e é como se as paredes pudessem reter sentimentos, esconder olhares e às quatro paredes é onde se quer ver.
Quem pode conhecer o espírito humano, os alicerces da cultura? Índios têm ocas, árabes têm tendas, esquimós têm iglus, mas “o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. A casa ainda respira, mas já vêm os demolidores e a caçamba, lá embaixo um carro atrapalhando, vão guinchar... “o meu carro”!
Pois é, fui buscar no pátio meu poisé com um troco emprestado, ao passar pelo, pela... o casarão já não era. Só me resta registrar em textos as vidas que ele abrigou. Com certeza o cimento armado virá sepultar essa memória urbana.
(Publicado na A Tribuna Piracicabana de 22/01/11)
SINOPSE de O SEMINÁRIO
A história se passa num seminário grande, de dois andares, um casarão antigo de frades. A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Adelmo é tido por suicida. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes, os corpos são encontrados de manhã caídos no jardim sob a sacada. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga, de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou em sua vida e talvez nem você.
Camilo Irineu Quartarollo
Obs.: Você poderá adquirir comigo pelo e-mail camilo.i@ig.com.br, autografo e entrego pessoalmente ou por correio, e o mesmo estará à venda na Libral e Nobel do centro de Piracicaba-SP, pelo módico valor de R$23,00. Contacte-me.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Vejam após o texto do blog, a sinopse do livro O Seminário.

A Outra ou Os doces de casamento

Quando chegou a casa a esposa chorava, deitada na cama com as mãos cobrindo o rosto. Na cozinha toda bagunçada panelas, pratarias todas espalhadas e no chão uma barata não pisada, agonizante, esperneava. A situação era preocupante nos primeiros dias de casamento. “Que foi, meu bem?” foi a primeira tentativa de estabelecer contato, mas os soluços convulsivos da mulher não davam tréguas, até que:
- Você pensa que sou escrava, aqui. Enquanto ela está ai o tempo todo, eu sei. Não adianta tentar esconder não.
Casado recentemente, marido de primeira hora e jovem, deixara algumas pendências afetivas e casos amorosos terminados unilateralmente por ele, mas as sequelas de uma vida avessa aos padrões monogâmicos davam azo a pensar e devanear. Ela estava ressentida de alguma fofoca, pensou. Começou a enumerar mentalmente os amigos invejosos e os prejudicados de suas relações de alcova, não achou ninguém tão mal a ponto de pôr a esposa a nocaute por depressão.
Eliminados os problemas externos, reuniu energia para resolver os de casa. Escrava – dizia a esposa. Por quê? Ela quem? E veio a pergunta certa, aquela “de quem você está falando, meu bem?” A pergunta certa, mas em hora certa? Não, ela voltou à choradeira. Mas antes se levantou e lançou algumas acusações aleatórias. A Outra rondava pela vida conjugal deles. Estavam bem, tentando viver a dois, mas não cabia um terceiro escuso. Ele contou nos dedos as quais deixara pela esposa e faltavam dedos, mas cheio de dedos foi consolar a mulher, carinhoso. Estava escrito nos seus olhos que, antes não o olhassem com aquele olhar de medusa, petrificado. Vira um fantasma. A coisa era mais séria da que pensou.
Seu sangue fervia. Se a Outra, fosse quem fosse, estragasse seu casamento a mataria de forma desumana, com crueza. Sentia-se invadido em seu lar, profanado o seu sagrado matrimônio e ferido os sentimentos puros da esposa, uma conquista de um marido arrependido de sua vida dissoluta, que agora cobrava por cumplicidade. Afinal, fizera diante do altar o contrato com Deus e com o cartório e agora alguém se interpunha na sua vida consagrada de homem de família.
A Outra tinha de ter o nome dela, era a vingança maligna. A esposa não conseguia proferir nem o nome, mas o levou escorada pelo corredor até a cozinha, ela estava lá. Ora, a Outra era uma barata que a assustou e o marido começou a rir e levantou o pé como herói para matar a invasora, mas não, um grito da mulher:
- Não a mate, é um ser vivo!
Então?.. Taca o spray, taca o spray, repetia a entomofóbica e a barata esperneava, olhando os algozes discutindo a forma de sua sentença, rodando o dorso pela cozinha até que conseguiu se desvirar e fugir; todavia, enquanto os doces de casamento estiverem por ali, a Outra ronda o lar.
O SEMINÁRIO - Sinopse - A história se passa num Seminário grande de dois andares, um casarão antigo de frades. A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Adelmo é tido como suicida. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes, os dois caem da sacada e são encontrados de manhã, caídos no jardim. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou em sua vida e talvez nem você.
Camilo Irineu Quartarollo

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


Amigos, grato pelo apoio e acessos em 2010. Espero que este blog de crônicas continue correspondendo às espectativas. Mas vejam o texto abaixo sobre como surgem expressões populares, que depois ninguém sabe quem falou primeiro. Um abraço. O blogueiro

Dia enluarado

Que lua? – Essa é uma expressão popular nova que se incorpora à Língua. Numa fila de supermercado, o “mano” suado olhou para mim e desabafou: que lua, heim meu!? Não tive alternativa linguística a não ser responder: Que luão, né!?
Os literatos que o corrijam à portuguesa, mas o povo entende e nem a ditadura consegue mudar o espírito da língua e os apetites por vocábulos novos, nascem por aí como filho sem pai de uma geração espontânea ou a criatura é relegada a um escritor aventureiro.
Ora, Sol e Lua são análogos, sucedâneos, mas a Lua é maior que o Sol, maior não, “mais grande” porque está mais perto (embora dizer “mais grande” fira os ouvidos sensíveis, os dois astros são grandes, um é ou parece maior que outro. A Lua tem um calor próprio e em noite enluarada o dia é mais quente ainda, dia enluarado! A Lua vence o aguerrido e inflamado sol em noite de Lua, ela reina durante o dia e noite.
O professor da esquina discutia com o homem que perambulava pela rua pedindo, provocando, arruaçando. O modesto mestre, cujos óculos não lhe caem das pupilas flamejantes, advertia-o a seguir o bom português; mas do bar vinham bêbados e mais algumas expressões espirituosas. No que lá também junto ao vinho e à caninha reviviam literatos e artistas de figuração, mesmo a desdém de um copo protagonista.
Embora não fosse desfrutar do vício parava os que iam para um dedo de prosa – mas nem um uisquinho, tio? Era só conversa mesmo. Como a casa do professor era o início de um aclive, o bebum ficava, os corajosos que tentavam subir desajeitados, voltavam para o parapeito da janela e conversavam ou dormiam agarrados ao poste. O caso era que num desses dias, o transeunte, trançando as pernas, queixava-se do nhenhéu. Seria um pernilongo, um Aede Egipte, um mosquito comum, ou o quê? O literato e filólogo quis saber, mas só ouvia o zumbido e os golpes de trôpego tentando acertá-lo de punhos cerrados. Que nada. O coitado estava suado e não pegava a criatura voadora invisível e como não visto, era como um verme ou bactéria, nome de coisa que não se vê. Mas o professor insistiu:
- O que esse nhenhéu, meu filho; eu não sei?
- Num sabe, um próóofessôr, nenheu.

Neste 2011 lançarei O Seminário. Um livro de muita dedicação para escrever, reescrever, garatujar, regaratujar, corrigir, recorrigir, ajustar, reajustar, pensar na capa, na contracapa e chegar até o leitor da melhor forma e o mais caprichado possível. Aí está ao lado, num livro aberto O Seminário. Vou informando melhor nas próximas postagens. Para maiores contatos acesse meu e-mail camilo.i@ig.com.br