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sábado, 22 de janeiro de 2011

Amigos, já moraram em algum casarão? O texto hoje é sobre. Eles não tinham as trincas que os de hoje têm, porque o cimento armado é muito rígido, o saibro e as massas de antigamente eram mais plásticas, como o texto que quero apresentar-vos. Abraço a todos e leiam a sinopse de O Seminário no final. Grato.


Casarões
Na cidade têm muitos por aí, esparsos, em meio aos arranha-céus, abandonados. Quando nem se percebe se os vê em esqueleto a céu aberto, em demolição suspensa, pendente de algum inventário. De quem é? Hoje de manhã estacionei meu carro em frente a um deles, em pleno centro da cidade. O baita estava para ser derribado. Fiquei olhando as portonas de tranca de madeira, os janelões com molduras dos pedreiros de antigamente, que assentavam aqueles tijolões enormes, que nenhum olaria fabrica mais. Salta aos olhos aquela planta baixa em tamanho natural, na qual pude pisar. Na marca do primeiro degrau da escada, pus o pé e tirei, o patamar já não existia, era devaneio subir uma escada invisível, mas subi ao andar superior, a uma sacada de observador feliz. Na sacada suspensa, na vertigem dos meus olhos via lá embaixo, pequenos, carros antigos e transeuntes de cartola e bengala, vivos.
Nas paredes internas todas derribadas e somente os alicerces demarcam os antigos cômodos. Uma família vivia ali. Quase ouvi um choro de criança no quarto do filho menor, pegado ao quarto do casal. A marca do fogão à lenha e a fumaça que ficara na parede ainda em pé, com um risco de carvão. O chão, sim, a parte do piso que não tiraram, era um ladrilho antigo de motivos vermelhos e verdes, bonito e de muita história. Voltei para sair e pisei naquele chão inda úmido do sereno da casa e acima um céu risonho com pássaros em suas circunvoluções. O telhado da casa?! Meu Deus! Tiraram-lhe o tampo! Era um quadrilátero vazio.
Nada mais do que já fora um lar. Imaginava um telhado invisível, alto e as pessoas que ali viviam. Quando se habita uma casa, um ambiente familiar, não se percebe a fragilidade da vida e é como se as paredes pudessem reter sentimentos, esconder olhares e às quatro paredes é onde se quer ver.
Quem pode conhecer o espírito humano, os alicerces da cultura? Índios têm ocas, árabes têm tendas, esquimós têm iglus, mas “o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. A casa ainda respira, mas já vêm os demolidores e a caçamba, lá embaixo um carro atrapalhando, vão guinchar... “o meu carro”!
Pois é, fui buscar no pátio meu poisé com um troco emprestado, ao passar pelo, pela... o casarão já não era. Só me resta registrar em textos as vidas que ele abrigou. Com certeza o cimento armado virá sepultar essa memória urbana.
(Publicado na A Tribuna Piracicabana de 22/01/11)
SINOPSE de O SEMINÁRIO
A história se passa num seminário grande, de dois andares, um casarão antigo de frades. A morte de Olderick reabre a discussão sobre um fato antigo, o da morte de Adelmo em 1940, noviço e autor de um diário desaparecido. Adelmo é tido por suicida. Duas mortes semelhantes em épocas diferentes, os corpos são encontrados de manhã caídos no jardim sob a sacada. Coincidência? Talvez. Mas ainda outra morte da mesma sacada e os ataques aos seminaristas nas cercanias do Seminário põem em dúvida a tese da simples coincidência. Os moradores desconfiam de alguém furtivo pela casa antiga, de muitas janelas, portas e passagens secretas. Talvez o diário de Adelmo ou as anotações de Olderick possam elucidar o mistério, mas o jovem Teófilo vai descobrir coisas que nunca imaginou em sua vida e talvez nem você.
Camilo Irineu Quartarollo
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