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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Mula-sem-cabeça

Amigos, estivemos fora do ar neste final de semana devido a alguns ajustes com a senha. Ufa! Recuperei, tinha de manter o live messenger funcionando e daí consegui, misterios da net. Desculpe Louro Neves e outros, mas já estamos funcionando normalmente com novas e lindas crônicas. Bom, acho que a mula-sem-cabeça aqui sou eu que não consigo mexer queça tar internet. No entanto, curtam meu texto. Inté. Abç.


O blogueiro




Mula-sem-cabeça
Um animal que rodopiava pela cocheira à noite entre os cavalos. Dava coices e derrubava cercas e desembestava num tropel, levando cavalos fujões a lugares inimagináveis. Depois o dono tinha de ir com corda laçar os arredios ou desatolar alguns do riacho e alguns só faltavam subir em árvores. Os caboclos que a viram de frente e sobreviveram dizem que tinha uma cruz na testa e pulava como os redomões e vinha sempre em noite de lua.
O animal teria sido de um barão dono de escravos, dava muitas chibatadas neles, era sádico e foi na casa deste que a mula fez grande estrago. Entrou pela porta, fuçou tudo e coiceava, por fim derrubou as lamparinas, que queimaram a casa e o barão morreu junto, virando lenda. À noite as famílias se apegavam ao terço e lá ficavam temendo os ruídos, até de um latido de cão cismado.
Meu pai não tinha medo disso e dizia com valentia que era superstição. Quando moço ia sempre aos bailes, o cavalo voltava sem ele pegar nas rédeas, sabia o caminho, dormia sobre a cela. A mula-sem-cabeça nunca o atacou, mas tinha uma porteira que abria sozinha, mas isso é para outro texto.
Nunca o atacou, mas numa noite a viu de relance atrás de um capinzal. O sono o impediu de verificar a contento e o cavalo manteve a marcha leve até a casa. Como a tal não o seguiu, deixou-a por lá, estranha que fosse. Todo o sábado passava ali naquele lugar, uma santa-cruz e um capinzal da fazenda do barão e um animal muito grande pastava. Era sinal de azar, que mudasse de caminho, encontrá-la seria a morte e a ruína.
Meu pai foi ao baile pela mesma trilha, dançou com várias senhoritas, não deu esperança a nenhuma, ainda não escolhera a sua, voltou à montaria, não estribava, bateu no pescoço do animal e este foi no caminho aprendido pelo hábito e passaram pelo capinzal afamado. A mula? Meu pai desceu para ver a tal. Um mulão enorme, sem dono, que parou, levantou a cabeça da sombra que a noite fazia, era uma malacara linda.
Voltou no domingo. Os caboclos deram as descrições físicas precisas das muitas aparições pelas redondezas e meu pai falou:
- É esta? – e mostrou o animal laçado, só restaram os copos sobre as mesas, os homens fugiram todos e meu pai teve de se servir, pois não havia nem atendente mais. A mula? Bem, esta esperava o novo dono e nunca deu problema. Para se adestrar um animal, não se pode perder a cabeça.

sábado, 21 de maio de 2011

Divulgação - PONTO DE LEITURA
Dia 02, dois chuchus, duas bananas, de junho (junho), 02/06, às 20:00 horas, será o dia do Ponto de Leitura no Ponto de cultura Garapa, rua D.Pedro II, 1313 – próximo ao terminal central. Lá teremos leitura e discussão de parte do livro O Seminário, digo que será dinâmica, ninguém vai dormir antes e poderemos ver como cada um lê, porque um livro depois de pronto é do leitor, ele refaz o texto e o enriquece em sua mente.
Sobre o texto abaixo: É uma alegoria às pessoas que não cumprimentam e para não dizer que fui mordaz demais, devo confessar, que em certos dias, eu mesmo sou um sapo de pedra. Perdoem-me. Leiam-no:


Sapo de pedra
Era verde musgo. Um sapo de pedra que ficava no canto da casa, próximo ao jardim. Desde a minha infância era lá que o tal ficava, nem sinto mais medo daquele bicho papudo, como um deus dos bosques enxaguados, com dois olhões silentes, guardando o nada – sapo de jardim.
Com o tempo a cor foi mudando para descorado, quando púnhamos a mão nele estava quente, mas não vivo – era o sol da tarde que o imantava e depois voltava à sua frieza soturna. Mal sabiam nossos pais que estando ali brincando em volta fazíamos pipi ali mesmo, sobre o tal guardião das noites. Quê pecado! Criança, não tem jeito mesmo, hoje puxaria minha própria orelha.
Mas esta é parte da história. Caso é que vi alguém que lembra muito o sapo. Seu Anuro, este é o nome do morador entre grades, que sai para tomar sol de manhã e fica num banquinho, de cócoras sobre o mesmo. Passei lá e disse-lhe meu bom-dia. Levantou o queixo com desdém e engoliu alguma coisa, diria que engolia moscas que meu sapo de pedra não come. Seus olhos eram frios como os do sapo ornamental, qualquer abordagem inócua, falava-se com as paredes.
Quando o assunto lhe era de interesse falava sim. Falava com o senhorio, com o político que lhe prestava favores, com as pessoas de rua não, nem um aceno leve, não se prestava à existência destes e eu um deles. “Bom-dia, seu Anuro!” e nada. Não desviava o olhar, olhava num ponto de vazio, de inexistência. Ignorava.
Minha mulher ia pôr o sapo de pedra na caçamba, descartar. Não, coitado! Levei-o até a casa do homem e deixei na porta e sai rápido, um sapo ao lado do outro. No dia seguinte olhei de esguelha o jardim para ver se ele tinha aproveitado meu sapo para ornamentação. Onde eu pusera, ficara. Pensei que amolecesse com o presente ou com a “mensagem”. Que nada! Seu Anuro ficou lá incomodado, aliás, agora eu também. Insisti no meu bom-dia e já evitava olhar para ele (desdenhei também), minha mulher me recriminava a vergonha junto dela sem a resposta do cumprimento, mas desta vez ouvi o bom-dia de retorno (orgulhoso, nem o olhei). Era uma voz estranha, rouca, gutural, mas respondeu; virei satisfeito para minha mulher:
- Tá vendo, ele respondeu, deve ter gostado do presente do sapo.
Ela disse zombeteira:
- Respondeu, é? Não tem ninguém no banco hoje. Quem respondeu foi o sapo.
Publicado no jornal A Tribuna Piracicabana neste sábado

Nota de falecimento: Faleceu nesta sexta-feira meu tio Laurindo Todeschini e uma personagem de meus contos e infância. Peguei por ele muitas personagens como tio Patusko e outros, contudo ele uma pessoa controversa. Sempre busquei o lado que mais refletia lições de sua existência, mas era um ser em refúgio de seu ego, de pouco entendimento do mundo a sua volta e de um coração grande e desarrumado, talvez alguém que Deus chamou e ainda não tinha terminado as primeiras lições de casa, de casa que não conseguiu ter e viver por suas culpas e vivências num mesmo corpo, que é a casa do espírito, não a prisão. Por mais culpa que lhe recaia nesta passagem cadente pela história, meus respeitos. Que Deus o tenha em misericórdia.

sábado, 14 de maio de 2011

Amigos e leitores, este texto não está protegido pela minha autoria, nem meu coração. Se quiserem copiem.
A imagem da tartaruga que posto é a visão de uma liberdade em meio líquido, em meio à natureza líquida dos sentimentos, num mundo que se dissolve e se regenera.

http://www.mandamusica.net/oliver-good-morning-starshine.html
(Você pode ler o texto no blog e ouvir a música neste link acima)
Bom-dia, estrelas brilhantes!
Estou ouvindo a música, Good Morning Starshine (ouça o link). Lembro-me de quando tínhamos bancas na feira, ia de madrugada e ouvia no rádio, 1969, eu tinha dez anos. Mal traduzindo a letra, e nós somente arranhávamos o inglês, é "bom-dia, estrelas brilhantes". Lembro que meu pai ia para outra feira montar banca lá e trabalhava, como eu admirava tanto vigor, meu Deus, e eu me dava com o trabalho braçal, era forte, mas gostava mesmo era de me perder em alguma fantasia com bolhas de sabão campeiro ou coringa. Na verdade, era eu um imaginativo. Ah, se eu pudesse! Resolvia os problemas do mundo, do meu mundo pelo menos. Nem sabia o que queria da vida, mas essas músicas românticas como esta me deixavam com ânimo de mexer com o transcendental, tocar as estrelas, como se troca lâmpadas e as nossas eram das velhas, daquelas que se tem de subir na cadeira para acender e apagar o pavio.
Perguntei para ele, nos últimos estágios do Parkinson, "lembra-se do gordo, pai?". Lembrou-se! Sinto-me uma ameba, mas posso ser um palhaço, um móvel, qualquer coisa. Não ligo, mas queria estancar aquele choro inconsolável de sua demência. Seus olhos estão distorcendo as coisas, coisas como eu, que posso voltar a ser informe num átimo, até me refazer outra vez em algum plano de sua memória.
O padre dizia de milagres, de tantos que figuram na bíblia, e... nada! Continuo imaginando mesmo, porque do contrário, não consigo ver nada à frente. Dizem os mais próximos dEle que nunca SE repete, mas naquela madrugada me deu uma demonstração através dessa música em minha sonolência, numa paixão juvenil que poucas vezes experimentei, num êxtase da manhã. Numa sexta consciência vejo todos os martírios e muitos iludidos, mas quem está alheio à dor humana é um iludido, o coração humano não pode mentir para si mesmo. A vida não vem pelo sêmen, vem pelo coração e de sua purgação. A verdadeira oferenda sacrifical não é o dízimo, é um coração puro.
Desculpem-me, sou mesmo dado a devaneios e até elucubrações espirituais fradescas, mas os doutores estão loucos, as usinas nucleares explodem e adultos choram como criança. Se eu for pedir contas a Deus das minhas perdas, vai me jogar tanta coisa na minha cara que... Bem, que jogue, posso chorar, espernear como criança e me esconder atrás de alguma coluna do templo e aguardar o raiar do dia para agradecer em qualquer idioma, mesmo que só veja as estrelas brilhantes, nesse lusco-fusco que eu queria lhes apresentar... mas já faz tanto tempo! Minhas pobres estrelas piscam no inacessível, no intangível, a flanar no céu como crianças misteriosas num céu de limbo, sem batismo, num dia por nascer. Maranata!

Este texto não está protegido pela minha autoria nem meu coração, se quiser copiem.

Veja minha entrevista sobre O Seminário na Tv Unimep
http://www.youtube.com/watch?v=P3pWQRT1Sfo

sábado, 7 de maio de 2011

A fuga das tartarugas (ficção)

Sobre o texto de postagem, crônica de ficção A fuga das tartaruguinhas. Devo dizer que este quêlonio, ordem a qual pertence tartarugas marinhas e cágados (que chamo aqui de tartarugas como o povo em geral), têm algo de vivência longeva, de estabilidade, de eterno, por isso lancei como um tema de crônica e de distração, neste mundo de stress. Amigos, espero que degustem e que sejamos eternos, enquanto nossos sonhos permanecerem. Soltem a lua!.....


O blogueiro


***Mostra do fórum

na casa do povoador foi legal e pudemos nos inserir neste circuito de passeio pelas tardes mornas e manhãs radiantes com nossas obras. Parabéns a todos artistas e visitantes e a boa vontade dos organizadores. Foi um ato de amor.

***Palestra

Foi bom conhecer tantos talentos e carinhas de alunos e alunas do Sesi, ao ministrar a palestra sobre Blogs e literatura. Amigos, as redes sociais são importantes para a interação entre as pessoas, mas o blog é fundamental como um diário, buscando alguma característica própria do blogueiro. O cuidado com a excessiva exposição à net é bom, principalmente aos mais jovens e vaidosos, não devemos nos expor à-toa, colocar endereço residencial, fotos em excesso; é possível falarmos de nós mesmos, de nosso interior, sem ficar dando a ficha nossa a todo mundo. Digo isso, porque passei meu endereço de blog a eles e sei que muitos vão acessar.



A fuga das tartarugas (ficção)
Ganhei de presente da minha bisavó e eram três - uma bem espertinha. Na verdade eram passadas de geração a geração e já constava em testamento que para receber outros bens o herdeiro teria que se comprometer a ficar com elas.
Deixava-as na garagem para os cachorros as cheirarem e esta, a espertinha, atacou um deles uma vez. Comiam couve e outros vegetais esses pré-históricos e acho que reconheciam as feições da família. Fiz uma casinha azul para elas com desenhos de flores coloridas e tudo, mas se escondiam pra cá e pra lá. Lentas, mas ativas, andavam num compasso menor que o de um ponteiro de relógio, a gente cansava de contar antes de darem o primeiro passo. Minhas tartaruguinhas moles dentro de carapaças eram diminutas e afugentavam gatos e ratos de dentro daquele tanque de guerra natural e depois abanavam o rabinho.
Assim era a nossa vida, digo a delas, porque a minha foi mudando. O tempo faz a gente envelhecer, perder o que pensava ter e ter o que outros têm. Num dia acordei e não as vi. Bem, elas se escondiam mesmo por meses sob o guarda-roupa ou outro canto e comiam pouco, bebiam pouco e “ibernavam”. Os cachorros não as farejavam e elas sumiram...
Bem de família, da minha bisavó já, os bens agora iriam para uma instituição de caridade se eu não as repassasse ao próximo herdeiro, entrei em estado de aflição. Vasculhei a casa, o quarteirão, pus notas no jornal e nada. Então numa noite e eu sentado na cadeira da garagem distraído com um livro e chegaram as quatro! A espertinha tinha engravidado e trazia a filhinha. Onde teria se encontrado com outra tartaruga para esse idílio? Nem sabia que tartarugas engravidam, estava desatualizado e agora uma tartaruginha carente corria em minha direção, ou melhor, o espanto me fez lento. Vi quando voltaram para sob o guarda-roupa. Meu Deus! Há quanto tempo não mudo os móveis de lugar, não fatio couve, não como saladas verdes ou vermelhas, e o meu colesterol! Lá embaixo descobri um ninho dentro da pantufa velha do nono e outras tartaruguinhas começaram a sair correndo do calçado antigo, todas pré-históricas e então abri a janela e soltei a lua, que subiu alto no firmamento e... você viu minhas tartarugas?

Publicado no A Tribuna Piracicabana em 07/05/11 Camilo Irineu Quartarollo
quartarollo.camilo@gmail.com
Autor do livro O Seminário

E grato aos leitores da obra e que têm a obra em casa. Adquira o livro pelo e-mail acima.