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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 22 de outubro de 2011

Anos incríveis.


Amigos, esta semana reecontrei muitos irmãos que estudaram no seminário religioso capuchinho em 1981-1982, no facebook é excapuchinhos. Nós, os sem-vocação para conservadores, fomos como folhas juntadas numa rua sem-saída e que um vento bondoso nos espalhou nas diásporas, muitos destes amigos e irmãos estão hoje casados ou não, exercendo suas profissões e são até onde sei bons cristãos e pessoas prestantes à sociedade. Homenageio com este quadro de Chirico ao lado, este pintor fazia suas pinturas com perspectivas destoantes, de propósito, para evidenciar a percepção contraditória que se tem. Nem tudo está na nossa perspectiva, nem nos é previsível, mas tudo pode chegar a bom termo dentro de uma espiritualidade desenvolvida. Nossa missão não é mais "salvar o mundo", rsrsrs, é a de ser humanos na humanidade de Cristo, a Lei fundamental do cristianismo, o Amor. Como todos, creio, tenho muitas recordações da casa de formação e de muitas ocorrências, afinal, eram anos incríveis!
Chove sapos
O sapo resolver ficar atrás das folhas. Com os olhos semicerrados, escuso, dormindo para quem vigia e acordado para quem sonha. O mato é seu lar, o rio o seu refrigério. Sapo não engole sapo, engole moscas. Verde, dentre verdes nem sempre, com seus olhões desapercebe-se entre folhas e relva, sem atrativos para quem vive nos ladrilhos secos.
Atrás de folhas verdes e amarelas e alguma rosa que desponta faceira, enfiou-se por lá, perto ao enorme vaso, abundante em folhas e generoso de terra. Coaxar ainda não. A noite caiu e as estrelas apareceram nos céus, vozes e gritos de crianças pelo corredor, mas o sapo está em silêncio a engolir seus pensamentos. Nada o demove desta noite de natal.
Quando chegou não se sabe. A qual pretexto também não. Se veio pelo muro ou portão ninguém viu. Um ser solitário e entrão, que busca lugares onde não possa incomodar, mas o engraçadinho pergunta: entrou de sapo?
Anura paciência de quem herdou o papo, mais não fala de sua sapiência. Conhece as estrelas, mas nos pântanos a névoa branca da madrugada passa e depois lá, ainda resta aquele ser de olhos dormitantes.
Fica a olhar a menina que deita água nos vasos de manhã, em meio aos cantos das aves nem o percebem, verde entrefolhas. Sonha com a menina. A água do regador lhe cai fria e sua pele úmida respira como se na lagoa estivesse. Há tantos dias que saiu que nem mais se lembra. O sapo envelhece sem perceber, é assim. Sabia que veio pulando na noite e se encantou com aquele jardim. O sapo sabe a diferença entre velhas bruxas e princesas, aquelas o cozinham aos poucos em poções mágicas, estas se casam com ele.
O que quer da vida? Era um simples sapo de jardim, escondido sob a paisagem de uma família estranha que toma café. Doutro lado de sua visão está uma escultura de sapinhos e a mãe sapo em pedra. O chafariz borrifa neles, inofensivos, débeis, imóveis, limpos. Há dias em que a chuva cai e pode coaxar ao mandador de chuvas, ao grande sapo que está no final do arco-íris, assim crêem os sapinhos; este não sabe bem como vêm as águas de cima, mas se alegra. Às vezes, não saber nos inspira as mais profundas capacidades, seu primeiro coaxar foi numa garoa de setembro e perto da janela dessa menina. Ela abriu a janela, procurou com os olhos, fez um olhar de não sabia o quê e fechou a janela por onde se via sua silhueta pelo quarto iluminado por um abajur somente. Dormiu lá dentro, enquanto ele coaxava lá fora. Talvez achasse como muitos, que chovia sapos; mas a água é a alma desses anfíbios.
Por isso, meninos, se ferver a água do planeta eles morrerão em suas lagoas. Mas por enquanto podem brincar nos lagos, a bruxa do caldeirão não chegou.

2 comentários:

  1. Olá Camilo, sua crônica instalada na sapolândia, espero que não na do "seminário"... reverbera entre bruxas e princesas a premissa de que a "...missão não é mais "salvar o mundo", rsrsrs, é a de ser humanos na humanidade de Cristo, a Lei fundamental do cristianismo, o Amor"!! Parabenizo-o pelo fato de pular fora do lago onde sequer coaxar era permitido e, assim saber envelhecer com sua dignidade escolhida, jamais imposta! E, deixemos ferver o caldeirão bem longe de nós...
    Adorei suas céticas metáforas! Parabéns! Abraço da Célia.

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  2. Oi, Camilo! Quanta poesia nessa crônica! Os sapos merecem. São criaturas importantes que, muitas vezes, sofrem maus tratos por serem diferentes de nós.
    Hoje vim pedir uma força. Meu poema “Arco-Íris” está concorrendo em uma votação online no endereço http://www.premiosfliporto.com.br/2011/toc140.php Se você puder, por favor, passe por lá e deixe uns votinhos pra ele. As votações terminam no dia 26 de outubro, à meia-noite. Abraço e obrigada!

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