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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 8 de outubro de 2011

Domesticaram o lobisomem!

Ao lado, Belinha. Uma cachorrinha tímida que pegamos pelo Viralata Vira Vida. Ela posou para este desenho e vai parar numas das páginas das Ciladas do Androide, meu próximo livro - se Deus quiser...

Ponto de leitura .

o PONTO de leitura GARAPA cedeu o espaço para leitura e discussão do livro A menina do Bairro Fria de Luzia Stocco. Agredecemos a presença brilhante de todos e a disponibilização desse espaço pelos nossos amigos peões do Andaime.

Domesticaram o lobisomem!


Uma amiga me contou que lá onde morava, nos confins dos sertões, tinha um lobisomem. Quar? - me indignei. Era perigoso? Não lá, me disse, esse era bonzinho, feio, mas bonzinho, todos sabiam de sua identidade secreta de lobisomem e fingiam que ele era normal. Este gostava de contar histórias e ela, criança, o ouvia no seu colo. Exceto em noites de lua cheia. Daí o contador sumia e as pessoas ficavam quietas à luz de alguma lamparina, vendo a lua pela janela; o seu chico não era encontrado em casa, nem nas vizinhanças, a mulher vinha dormir com a vizinha e no terreiro era um forrobodó de poedeiras e chocas, mas nada do marido da tal aparecer.
No dia seguinte aparecia, com algumas manchas e escoriações e não se lembrava de nada; ele não sabia que era lobisomem (espero que ele não leia este texto, nem minha amiga). Um lobisomem diferente, ele até contava histórias dele e tão bem que parecia estava revivendo aquilo num lampejo, uivava como um e as crianças riam. No final da história ele fazia o cachorrão de quatro patas e ia dormir como humano, as crianças já tinham passado para o sono e recolhiam-se protegidas em suas fantasias do bem.
Aqui na Piracicaba “véia” tinha um, rondava galinheiros, chiqueiros e mexia até com as nuvens do céu, quando aparecia vinha ventos fortes que balançava todos os ramos das arvores. Quem conta é um caipira, amigo meu, o Virso, mas que não aceita falta de educação. Se viu, é porque viu, ué! Fui com ele caçar a fera. Na verdade não acreditei muito (ele não vai ler este texto mesmo, então vou falar). O local do ataque do animal era a rua do porto, de madrugada, o bicho rondava e espantava as capivaras, mexia com os pilares da ponte e queria subir no elevador com suas garras. Quando vi o homem colocando bala de prata no revólver, tentei acalmá-lo. Ora, deixa disso, disse ao caipira, isso é lenda. Não o dissuadi. Se tem uma característica de um verdadeiro caipira é a persistência na sua decisão. Fomos.
Vimos vários bonecos do Elias derrubados, reconheci alguns pela roupa, eram mesmo do Elias e algum animal passou como vendaval ali. Não adiantou, o caipira farejava para encontrar o tal, balançando a arma com porte especial para caçar lobisomem. Eu tremia, tossia para espantar o medo, mas era “paura memo”. Entravamos na mata fechada, um calango passou e nem viu meu pé, chutei o rabudinho para longe e continuamos. Demos várias voltas na mata e no Salto e nada de lobisomem. Vamos a uma lanchonete comer alguma coisa, Virso – enfatizei. Mas e o lobisomem. Tá em casa, no meio dos livros, como este daqui, abri um. Olhou, olhou e abriu os olhos, arregalando. Você tirou até foto e depois disse que não tem lobisomem? Nesse instante vimos alguma coisa se mexendo e o Virso tirou o revólver e apontou. Sai daí, senão eu atiro, seo Lobisomem. O bicho veio brabo e ele atirou à queima-roupa, digo à queima-pelo. Na sombra do parque a coisa rolou e fomos juntar lá embaixo o tal. A bala de prata? Bem, esta era de festim e por um descuido nosso o lobisomem evadiu-se. Nós fomos parar no distrito policial. Essa de porte especial de arma para caçar lobisomem não colou. Agora eu acredito em lobisomem, mas não ando mais com o Virso!

4 comentários:

  1. kkkkkkk Adorei essa, Camilo! Muito bom!
    Adorei também a roda de leitura. O livro da Luzia é pra lá de interessante. Vou começar a ler logo que termine meus textos atrasados.
    Deixei, no meu blog, um convite pra vocês dois participarem de uma brincadeira de blogueiros. Se tiverem tempo, participem, tá? Abraço!

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  2. Olá, Camilo! Passei por suas "crônicas & textos" por uma convite da Carla para participarmos de um post extraverbal e, contagiou-me o "seu caipira, a bala de prata e o lobisomem domesticado (?) entre livros e elevadores... realmente é um folclore moderníssimo! Abraço, Célia.

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  3. olá primo,
    lobisomem perto de casa, que medo...
    belo conto...
    abraços

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  4. Ola Camilo,
    aqui Irineu. Gostosamente a gente saber que anda prestando para alguma coisa neste raio de vida. Porque passar pela vida sem largar uma sombrinha em seus desvãos...preferia não ter chegado.
    Grato. Abraçõ

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