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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 12 de maio de 2012

Amigos, grato pelos acessos da semana passada.
O café é um tema rico não só para a economia dos anos passados e talvez de hoje, mas para o encontro, as classes do pé sujo, dos engravatados, dos enamorados, dos mais simples ou mais frescos, cultivam o hábito de tomar café ou, se não, por algum efeito gástrico como o de um amigo (que me deu uma reprimenda, sentido, magoado e dizendo - já não disse que não tomo café - ainda vou escrever sobre isso, ahaha). O café é tão emblemático que tem o café preto e o café-com-leite, o café forte, o café fraco, o café no bule, o café torrado e moído na hora, café de tropeiro; o café preto é daqueles mais decididos, tomam numa virada e nem assopram o fervor e geralmente o tomam de manhã para acordar, o cérebro nem sentem a língua se queimar e podem se tornar de língua ferina, como eu às vezes. Ah, tem o café filosófico, programa excelente de domingo à noite no Cultura, filosofia antes de começar a semana.
Bem, depois dessa introdução, se quiserem ler o texto abaixo é de minha singela autoria e como não sou personalidade, perdoem os erros que não perdoam àqueles. Tenho certeza que se o Ludovico da Silva pegar este tema vai destrinchar como ninguém, como fez com o jogo de truco (que talvez um dia, com a permissão dele, posto aqui).Agradeço aos editores da Prosa & Verso, coluna de literatura do jornal A Tribuna, daqui de Piracicaba, pela publicação do texto abaixo.
O blogueiro

O elevador e o confidente
Não havendo outro lugar, escolheu aquela caixa metálica, com duas portas frias, como esconderijo às suas lágrimas. Precisava de algo que a levasse dali, numa evasão física da dor, que ascendesse deste espaço transitório, limitado, a outro mundo quem sabe.
Quando as portas se fecharam sorria aos convivas naquele barulho costumeiro de ar comprimido entre abrir e fechar, seus olhos se abriram para dentro, escondidas à outra do espelho, de costas. Um lenço cheiroso e as lágrimas copiosas de maquiagem desfeita desciam em veios e brilho dos olhos próprios, sim, os que mostravam a alma.
Àquela hora última o elevador dessa ala estava no vazio de um momento pessoal dela, que subia a pensar ouvir vozes, ecos do poço do mesmo. Do outro lado do edifício as pessoas quietas, somente alguns passos e toques de paradas do elevador, oposto ao de serviço, inativo à noite.
O seu transporte parou no último andar. Parou e abriu. Alguém daquele apartamento com a porta aberta chamou:
- É você?
Via-se do elevador a cozinha com mesa posta, com toalha de rendas e o bule verde, tudo com o requinte de espera.
- Quer café?
Não, bastavam-lhe a visão, o aroma incontido e a lua que passeava deserta, mas aceitou depois de duas últimas lágrimas, enxutas com o canto do lenço vermelho.
Lá embaixo um vento varre o céu e as estrelas num cinzento amargor, mas alguém corta pelo passadiço, apressado e vai embora pela outra calçada. Cá, o café esquenta os ânimos. Já pensaram como são frios e solitários os elevadores, nesse outono? Naquela época, muitos a achavam minha conquista amorosa, mas ela apaixonara-se por outro, que era de muitas outras, desalmado, e eu o confidente crônico dessa alma. Nada mais.
Aos que se interessarem por ficção científica e por uma boa literatura, segundo o autor em causa própria, adquira o meu livro As ciladas do , pelo e-mail camilo.i@ig.com.br

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