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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 5 de maio de 2012

Encontro com Tinoco

Na primeira foto, eu, Val, Luzia e Tinoco; abaixo, o Tinoco e eu, rendo-lhe meus respeitos, não quis aparecer em pé acima dele que estava sentado, mas abaixei perto do seu coração, ancestral e caipira, desta terra da minha gente. As fotos foram tiradas no teatro Municipal Dr. Losso Neto, aqui em Piracicaba. Vê-se ao lado o seu filho, Zeca Perez, em perfil.
                                                                                  
Esta postagem abaixo é do blog do quartarollo, meu irmão, jornalista da jovem pan, eu havia enviado o artigo por e-mail e ele publicou no blog dele. Como tem saudade da terrinha, Piracicaba, acha-nos caipira sempre, mas se visse os prédios que nascem de permeio (verdadeiros monstros pré-históricos), onde estão meus verdes, meus azuis, o arranha-céu comeu, como diria Mário Quintana; mas somos caipira sim, com honra e louvor, na oralidade que nos instiga a escrever melhor e calcar nas letras de nossas mãos calejadas o instantâneo da vida, os momentos fugazes como este com Tinoco, mas que ficará para sempre.
Ele publicou em 2009 e escrevi quando encontrei Tinoco com seus ditosos 88 anos.
O blogueiro

Coisa de caipira. Essa é do meu irmão (Camilo)
Publicado em 6 de abril de 2009
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Num momento difícil na vida do artista Tinoco, passando por necessidades aos 88 anos de idade depois de muito sucesso mundo afora ao lado do seu irmão Tonico, já falecido, eis que recebo do meu irmão mais novo, Camilo Irineu Quartarollo, um post no seu blog (
www.camilocronicas.blogspot.com) sobre o cantor numa visita há poucos dias à nossa Piracicaba. Leia abaixo se você também for caipira como “nóis”

Encontro com Tinoco
(Show dos pamonheiros)
Era um show regional em Piracicaba, com cateretê, rock e moda caipira mesclados. O anúncio era de que o Tinoco ia dar o ar da graça. Fulminado por esta expectativa fui até o teatro municipal. Vi vários grupos e rostos conhecidos, ex-colegas de trabalho e transeuntes do dia-a-dia, sem saber que faziam tão bem aquela arte no palco. Lá pelas tantas anunciou-se a presença ilustre. Pensei que viria um cover! Que nada! Em passos lentos e de mãos levantados um velhinho bonito, de terno amarelo e cabelos como algodão doce, vinha com os olhos brilhando. Era o Tinoco mesmo. Quase fui beijar-lhe a mão. Muitos aplausos.
Depois foi dizendo sobre a proteção ao meio ambiente, a seu modo, com muita emoção, de quem quer deixar uma semente, uma pequena sementinha que seja, na beira do rio, que se refaça a mata ciliar. Falou como um xamã, sentou-se numa cadeira como um trono, a cabeleira branca lhe parecia um cocar de um sábio indígena. Poucas palavras ou nenhuma já atingiriam o entendimento da platéia em “transe coletivo”. Pude ver de perto a alma do Brasil. Sem cerimônia ouviu e cantou suas modas em ritmo de rock, com a sensibilidade de um verdadeiro artista, sem medo de qualquer estereotipo. A arte e os artistas assombram as categorias racionais mesmo. Há muitas formas vertentes da mesma raiz.
Saiu de cena, cansado para “pegar o seu cavalo”. Tinha compromissos em São Paulo. Veio “dar uma força” “aos menino”. Cochichei a minha esposa que se tinha ido a chance de autógrafo. Era compreensível. Via-se o cansaço, o peso da idade e a emoção que se submeteu. Via-se também que nos tantos anos de sua ditosa vida mantinha o carisma, tinha uma bússola interna para comandar um show, entrar e sair de cena. Contou histórias de sua vida, algumas das quais conheço por livros ou de admiradores. Manifestou a vontade de mudar e vir morar na região de Piracicaba. O que nos seria gratificante. Ver o Tinoco nos shows, assistindo peças de teatro, subindo nos palcos e fazendo compras por aí, não sei se teria o sossego que precisa.
Estava satisfeito com a despedida do Tinoco, pensei que não fosse ficar até o fim do show e ia “pegar o cavalo para São Paulo ao entrar pela coxia”, mas no final da apresentação fui até a recepção junto dos camarins e lá um senhor em pé, sozinho, com a cabeleira branca e eu disse a minha companheira “olha lá, é ele!”. Simples e sereno. Vi e senti todo um passado ali na minha frente – o herói de meu pai, de meu irmão quase-gêmeo, as suas modas que ouvíamos pelo velho radinho de pilha com interferências, os programas que fazia pela TV, toda uma história de emoção ali, toda aquela presença. Falei muito, queria dizer tudo de vez. Não sei se me conseguiu ouvir ou entender ou assustou-se comigo, falei de meu pai que o “adora”, minha esposa ia me corrigindo; ele todo-ouvidos, sereno como um ícone que é perguntou: “Seu pai mora aonde?”. Naquele breve momento nem sabia como responder ou porque perguntara isso, um autógrafo bastava e ele queria contatar meu pai? Conhecê-lo como se houvesse uma amizade antiga? Será que queria ir à casa do meu pai? Não tive tempo de mais delongas, outros, percebendo o movimento e a figura dele, vieram e tinham todo o direito. Eu fui matutando o que ele quisera dizer com “seu pai mora aonde?”.
O artista tem de ir onde o povo está e ele, velho, cansado, com compromissos familiares, veio a Piracicaba.

2 comentários:

  1. Grande Tinoco, grande Camilo, é isso aí! Abração

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  2. Pois estive presente neste o que penso seris a sua última aparição em nossa Noiva da Colina, e o público o reverenciou com aplausos, consciente do seu trabalho com a Música Sertaneja de raiz. Parabéns Camilo pela homenagem tão bem documentada (histórica). Valeu! Abraços Poéticos desta CaipiraicabANA Marly de Oliveira Jacobino

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