carros de papelão
A habilitação tira-se com pouca idade e a aprovação social está
estampada numa carteirinha. Dirigir é poder. Quer conhecer uma pessoa, dê-lhe
um volante. Quando o ser entra nesta
cápsula com toda a tecnologia e tem os botões na mão... sai da frente! Alguns
já dão a carteirada e prosseguem conduzindo e seguros pelo airbag de seus
carros de luxo e vida de parasitas. Não se ponham no caminho deles.
Álcool? Dirijo melhor, por quê?
Esta é a resposta do ébrio.
Nestes dias vi um carro pequeno e de dois lugares, achei interessante
com o modelo e como o trânsito em Piracicaba está caótico, seria uma opção de
carro pequeno para dois e talvez para um lugar. Visto que a maioria dos carros
a circular levam apenas o motorista e ocupam quatro vezes o espaço, poderiam ir
quatro pessoas no veículo. Todavia o frentista dissuadiu-me:
- Ô chefe, se tivé oitenta pau, o senhor compra.
Não tenho e o seminovo já é
caro, então continuo com o meu.
Desde a descoberta da roda e da conquista do fogo os humanos sonham
com essa máquina capaz de levá-los a qualquer lugar, tirar da miséria humana,
vencer obstáculos de tempo e espaço, símbolo de transcendência. Fazem
aparentemente isso, mas levam de si o pior, a falta de educação, o rancor, a
falta de superação, o obstáculo a ultrapassagem, o desrespeito a outros
viajantes da vida e quando decididos a parar, o fazem onde o nariz lhes
aprouve, atrapalhem ou não.
Parece mesmo que se deve educar para o coletivo, um motorista que nos
leve aos destinos que queiramos ir, mas onde? Nossos carros não nos levam
somente ao trabalho, levam-nos por lugares nunca antes imaginados nesta cápsula
do tempo e espaço, aonde vamos imaginando um mundo, que não existe sem outrem.