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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 27 de outubro de 2012

Amigos, neste fim de ano eleitoral, apesar de meu blog não ser para estes assuntos, denuncio a truculência de alguns políticos em minha cidade, Piracicaba, com relação às pessoas que vão às galerias da câmara para assistir. Falta de compostura e decoro diria do vereador que entra no embate com microfone na mão e câmara da casa contra manifestantes nas dependências da casa. Foi proibido filmagem dentro da casa de leis pelo presidente de infindáveis reeeeleições. Assim é a democracia por aqui. Contudo, espero que gostem do meu texto que fala de alguém do povo, Theófilo. Leiam a seguir:
Amigos 
Os da dificuldade, os verdadeiros, os de bar ou os de copo, eventuais como os dos tempos de vacas gordas, os acessórios, os importantes para os reveses da vida e da profissão. Todavia, na frustração é mais fácil apegar-se a algum animal, cão ou gato de estimação, principalmente com o melhor amigo, o cachorro.  Cachorro até bêbado tem, a mulher não o suporta, mas o cãozinho lhe rodeia ouvindo amiúde seus lamentos num canto, com sobrolhos móveis como terapeuta nato.  O cão em sua ilustre percepção de mil faros, talvez até pense, ou capte algum pensamento, de que “gente é assim”.
Há muitas frases no corolário popular e de autoajuda ou orientação, e para várias situações de estima, notadamente a do escritor Exupéry, autor de O pequeno Príncipe, que dizia “o tempo que gastamos com um amigo é que o faz importante”.
Pois bem. Theófilo, Téo para os amigos, tinha com o cachorro uma amizade recíproca e fiel, e somente pelos carinhos e um pouco de alimento e água. Fiel para os padrões do Brasil, em filme americano os cães podem ser até testemunhas em processos judiciais. São também glamorosos, filmados em aposentos de personalidades. Lá se instalando, os cães logo pegam pose e nem ligam que usem seu nome em sanduiche, o hot-dog. Aqui qualquer vira-latinhas pedrês faz a festa e fama na calçada mesmo.
Caso é que o dono da empresa terceirizada em que trabalhava Téo era um que lhe enchia as orelhas, principalmente na época de eleições.
O patrão era daqueles que quando chega a um subalterno não deixa este falar e conta as histórias homéricas de sucesso, venceu na vida e aí vai... coisa que rico antigo gosta de espalhar - sofreu, ralou e está rico e você, pobre. Moral da história, ele é melhor que você e ainda é bonzinho, coitado.
Cansado de sua jornada e do mínimo salário, Téo vantagem tinha na esposa e filho, mas não contava não. Vivente sem amigos importantes, mas com a amizade de todos. Por quê? Era um tipo humano raro. De uniforme ou sem este era como os outros, partilhava uma ancestral solidariedade que põe muitos benemerentes no chinelo. Um excelente cabo eleitoral, mas não votava! Justificava na longa fila do correio. Daí que o destino cruel e traiçoeiro lhe pôs frente a frente com o patrão terceirizado, o qual foi logo falando “transfere seu título prá cá, Theófilo. A gente trata disso pro cê... depois o cê vota na gente, né?”
Com derrotas sucessivas o patrão-candidato foi queixoso a Téo. Por que não tinha amigos, como conquistá-los? Talvez com amigos teria eleitores...
Eleitores talvez, amigos quem tem é Theófilo. Aliás, é amigo “Dele”.

sábado, 20 de outubro de 2012

Amigos, grato pelos acessos a este blog da semana que passou. Posto um tema caro a mim e quase uma meditação, coisas que sempre me inspiraram poéticamente. Espero que gostem desta produção mais poética que as narrativas. O blogueiro.
 
            Areias da Arábia
           A noite esplêndida de um céu sem fim, distante como uma saudade. Uma abóbada natural, sem capitel. Uma terra de exílio e sem fim, uma porta empoeirada do adeus. Dunas incomensuráveis e camelos domésticos. Silhuetas dos filhos do deserto. Frio de luas e no meio do nada a tenda. Um trono para o homem, um tapete para os andarilhos, cânticos e alaúdes, enquanto esperam o pão feito na areia. Pão do meu pão, água da minha água. Um coração feito a Oásis. Os olhos de Lilavati, uma dançarina de véu, esguia e de olhos sinuosos e sensuais, acostumada com a aridez, cheia de mistério, de força, de dor, de amor e de maternidade. Uma deusa em carne e osso. Veem-se os filhos do deserto a sumirem nas dunas, atrás de algum passado, pouco importa a versão da história que conta, o que vale é o presente cósmico. Um olhar ao peregrino, ao andarilho, ao pobre, aos que sem saber hospedaram anjos em suas tendas.
            Os camelos também choram a perda de seus filhotes. Choram ao som de um alaúde. Quanto mais ao som doce e continuado de uma flauta esquecida em meio do mundo, perdida no desconhecido. Nos lençóis áridos das dunas de amarelo sem cor; à noite, como tapete lunar ao céu. Som cadente que a brisa eleva a entonação, num sustenido agudo e choroso, que vai aos mais profundos anseios do homem rude, firme no chão de areia que escorre com o vento, como uma enorme ampulheta. Teve que se unir a natureza para viver com leite de camela e da sabedoria dos seus ancestrais. As areias encobrirão os seus passos, mas a sua história a escreve no espírito.
            Outra tenda, um recomeço. A lua se postou cheia desta vez. O céu azul projeta nas dunas um leve azulado e os olhos pastam até marejados, colhem estrelas no céu, como uma criança as conta e define formas celestes. No silêncio eterno da noite, nada separa o homem dessas duas imensidões, o céu e o deserto. Sua tenda, sua roupa e sua cimitarra, sua família e lá fora o olhar de Deus de um canto a outro do céu.
            Nada destoa do infinito, a dança árabe numa tenda, como os véus de Lalivati, que às sombras tênues da Lua fosca atordoa. Destemida, receptiva, numa dança ancestral, com espadas e adagas, que ora seduz e ora defende, no mesmo gesto intrépido. Oxalá, o grito brandindo a língua e os pés no chão. Sim, em meio a noite a tempestade de areia. Vem mais forte na madrugada cobrindo abismos, sepultando sonhos num levante incólume, que nada a detém. Tempestades, o que fazer? Distantes solos arenosos esvoaçam e espicaçam os cumes das dunas, como dromedários abatidos a tiros. Os humanos como formigas protegem-se da mãe natureza. Os camelos atados blateram, com as patas cobertas pela areia, não agacham, não se dobram, resistem. De traços pré-históricos somente dobram-se ao oficio da montaria milenar. Em pé esperam o novo amanhecer no deserto mudado pelo vento. O deserto é outro, os caminhos são os mesmos.
            De manhã tudo é silêncio. Os animais sabem que tudo se foi, mas sob a areia e pedras muita vida restou, a natureza se refaz escondida da ambição e da exuberância. A força brota de animais e pessoas bem adaptados e de sabedoria milenar.  E sob os olhares negros de Lilavati debaixo do seu véu azul a medida da dor, das contradições, das tempestades, das indiferenças dos ventos e a força do ente feminino.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Amigos, feriado religioso e dia da criança, posto este texto com o qual participei e não me classifiquei num concurso. Creio que não alcancei a forma correta ou não entendi a proposta e que também tem muita gente escrevendo melhor, sabendo disso tenho de melhorar; por isso estou pesquisando e atentando mais aos comentários e percepções dos amigos, mais que aos elogios.
Uma boa semana, sem ou com Nepotismo, podem ler e criticar, porque mesmo se a editora fosse minha sobrinho meu ia ter de ralar. ahahahahahahahaahahAHAHAH.
O blogueiro
Nepotismo
Meu professor de filosofia dizia que para se entender filosofia tem de saber em que cadeira se assenta, a partir de onde se fala, então esboço a trajetória da vida de um sobrinho de político, daqueles coronéis que conservam o bigode e o chapéu. O tio lhe arranjou uma colocação, uma salinha no final do corredor, onde podia ouvir as conversas da Capital. Nepotismo? Foi lá que ouviu a palavra pela primeira vez e o tio desconversou.
Instalado na nova sala, na imensa sala que via vez ou outra um parente. O que faz aqui? O tio lhe dizia que era uma visita e assim passou a ver muitos da família visitando o tio, que era muito querido e sempre dava alguma ajudinha a um e a outro da família. Era um sentimental, uma imagem paterna com um sorriso de mãe incrustrado no rosto.
Depois de certo tempo, o tio disse-lhe que tinha de ir para casa, fazer as tarefas de expediente lá – não fazia nada e o tio fingia não saber, continuou pagando-lhe todas as vantagens com o erário público. Foi assim que passou a vir somente vez por mês na repartição, pegar o salário com o tio, que por vezes deixava com outro parente a repassar.
Era assim que todos viviam sob os bigodes do tio ou na aba de seu chapéu, uns na cumplicidade, outros na ignorância como este sobrinho. Os corruptos mais afamados todos caíram, menos o tio, que se manteve suspenso, planando nas asas do bigode de coronel. Não cortou a mordomia dos seus nem mesmo aparou o bigode, no entanto o sobrinho voltou com um pedido ao velho: queria sentar-se novamente no corredor para entender o que era nepotismo. Lá podia conversar com o servidor de café e com as copeiras ou talvez comprar um diploma.
Os vícios da administração pública sempre são atinentes aos outros, os corruptos são sempre da outra família e o nepotista tem um discurso próprio e alienado, o da posse efetiva do transitório contínuo– cadeira da família, “é um benfeitor” e as leis do país não se aplicam a ele. A ideia corporativa vem a reboque, tipo mafioso com filho peralta...”. Enfim, esta crônica não tem conclusão, visto que as práticas estão aí para um deslinde.

sábado, 6 de outubro de 2012

Amigos, grato pelos acessos a esta página. Boa eleição e acompanhem os seus candidatos. Se são bons que fiquem ainda melhor, se são ruins para os seus amigos, cobrem deles, afinal o voto quem depositou foi você. Do contrário para que votar? A vida continua depois da eleição, por ora, se achar de bom gosto, deguste meu texto, à-toa mesmo. Abç
O blogueiro
 
04/10/12 Tribuna Piracicabana
Dores à-toa
Não anda por si, não consegue deglutir, nem sorver líquidos. Seu corpo está limitado às mãos de outrem e o moço de branco não viria me render esta noite. Na folga dele revezavam-se em desculpas. À só com o doente fiquei. A noite alongava-se em penumbras do sono leve e alguns ais. Levanta-me, dá-me água, cobre-me, puxa aquela perna para cá. Mudava sempre de posição na cama sem se ajeitar em conforto. Sua silhueta era arquejante, em declínio das forças, a vida efêmera ia lhe deixando sob meus olhos, que relutavam em ver. Nos meus “dordolhos” e medos de infância ficava comigo, confortava-me. Ele fazia-me vencer os medos da noite, da depressão noturna, dos fantasmas.
         Havia um relógio redondo onde eu contava as horas, conhecia bem aqueles ponteiros antigos e o barulho das engrenagens punham ordem no acaso. Meu tempo interior pulsava e meus ouvidos de dentro cochilavam até o repicar da campainha.
         Saio a ver as cercanias da casa velha, os puxadinhos de italianos. O quintal com flores e frutíferos que nasceram de alguma semente que quicou da lata de lixo. Meu avô chupava laranjas por ali. Durante o dia havia pássaros, agora via algumas nuvens e silêncio onde sentávamos para conversar. As árvores resistiram nessa terra penhorada. Naquela cadeira velha meu avô recostava-se com seu terço e chapéu e ali sentava eu para ver o pôr-do-sol e olhava de pescoço longo como a empurrar os prédios feito cortinas. A serra de São Pedro ficava logo ali, perto de nossos sonhos. Ali eu abria algum livro de leitor vagabundo e falava comigo mesmo. Os poucos que tive foram os melhores, porque os li. Lembro-me que parava a leitura para carregar o caminhão de feira e sentia o cheiro do depósito – uma suposta fortuna, hoje memórias de alguns estrados e bancadas velhas. Por vezes parava e meu pai estava fazendo contas, gostava de ganhar dinheiro e “amanhã a feira vai ser boa”, dizia. Nunca me perguntou o que eu lia. Se necessário, até fazia algumas citações de cor, mas nunca foi um teórico, era um homem de atitudes próprias, com uma rude discrição.  Alguns daqueles livros ainda estão empilhados por lá e eu por aqui de enfermeiro, tento curar minhas dores até o próximo repique da campainha, dores à-toa.