Conteúdo

O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 13 de abril de 2013

Amigos (as), ainda às voltas com o Chiquinho, o vira-lata do bairro do meu amigo Ângelo. Não se esqueçam da Gleice, que me permitiu colocar o nome dela nesta crônica de minha inventividade. Espero que curtam. É uma puía, mas é boa e de novo não consegui pôr uma foto sequer, coisas de arquivo e extensões destes.
Blogueiro mentiroso 
O Chiquinho voltou?!
Quando vimos na TV o cão desaparecido entrar pela porta da capela Sistina avisamos o pessoal do bairro. Escalaram-nos eu e o Ângelo para buscar o fujão, o Cláudio deu parte da passagem e pediu sebo nas canelas, mas dona Gleice veio com um terço enorme e prateado para o papa benzer. Não era para esquecer e o colocou no bolso interno do paletó dele. A esposa lembrou ainda do cachecol de um vermelho vivo e da touca cor de carmim e de umas recomendações nos ouvidos dele. Embarcamos para Roma com uma coleira de reserva, mas uma boa prosa resolveria com o vira-lata.
Enquanto viajávamos sobre as nuvens o conclave operava às portas fechadas com o Chiquinho dentro, Deus sabe onde naquelas galerias de quartos; fora, os jornalistas queriam dar um furo de reportagem no Espírito Santo, quem é o papável eleito? No aparelho aéreo a trepidação soltava algumas orações presas de um agnóstico contumaz e o Ângelo dormia como Pedro na barca, enquanto lá fora Jesus pacificava os ventos.
Dizem que brasileiro tem complexo de vira-lata, ô, alto lá, vira-lata! “Nóis num é porquera, não” e ah, lembrei que o avião era o mais velho escalado para nossa viagem. As longarinas abanavam os narizes dos anjos que assopravam mais forte as turbinas como que intermitentes. Ora, o que o céu da Itália tem de melhor que o nosso?! “Nóis” fustiga e chega lá, como fizemos com a copa do mundo e muitas outras coisas. Se cair, do chão não passa.
Chegamos, acordei o Ângelo. Descemos, ele pegou a malas num bocejo e esperou lendo todos os informes luminosos rápidos. Eu esperava minha bagagem que passou por mim várias vezes, sem que eu conseguisse identificar a própria, mas o colega pegou e fomos buscar o Chiquinho pela praça São Pedro iluminada. Todo mundo procurando o papa no janelão e nós olhando entre as pessoas, um mundo de gente, para ver o Chiquinho. Paramos para tomar um cappuccino, sem dinheiro para hotel. Lembrei-me de que era oriundi, íamos descobrir algum parente, não havia porque minha família não é muita afeita à religião. Esfriava muito e Ângelo pôs o cachecol vermelho e a touca carmim e lembrou-se, saudoso, da esposa. Foi a nossa salvação. Confundiram-no com cardeal e levaram-no até ao vaticano, eu fui atrás. Passamos pela capela sistina sendo desmontada do conclave pelos marceneiros e pedreiros e aquele palavrório todo de lá, decididamente não era o Brasil; porém, não suspeitaram de que éramos simplesmente amigos do Chiquinho. E o talzinho dormia nuns entulhos dentro, pegamos ele pela coleira que veio sem rosnar, o terço da dona Gleice ficaria para depois ou eu mesmo benzia. Não, protestou o Ângelo, já que estamos aqui, ele vai benzer sim. Era abusar da sorte, mas tentamos subir mais alguns degraus da escada até chegar perto da sua santidade Francisco. O papa vinha e um guarda suíço também se aproximou, íamos ser pegos. O meu amigo ajoelhou-se e ergueu o terço da Gleice, o papa abanou a cabeça e abençoou. Graças a Deus livramo-nos e essa benção mesmo serve, pensei; mas o colega quis que benzesse também o cachorro, então o papa abaixou fez um carinho no peludo desgrenhado e foi. Saímos rindo do sufoco com o Chiquinho para a capela Sistina fora do horário de visita, por certo Michelangelo padeceu como nós com velas içadas, mas era bela mesmo nas penumbras. Distraímos e o Chiquinho se soltou da coleira. Ângelo protestou que o papa deu uma benção de abano ao cão perdulário que fazia festa. Assim voltamos com a coleira abanando para o Brasil e com o “rabo entre as pernas”, sem o Chiquinho. A tristeza se apossou de todos, mas de repente no portão ouvimos os latidos do malandro que entrou e o celular tocou:
- ¿El Chiquito llegó?
(Aos interessados pela minha literatura, vejam as obras indicadas no blog, na folha de rosto deste e, se quiserem, contatem-me no camilo.i@ig.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é valioso. Grato.