Conteúdo

O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

sábado, 7 de setembro de 2013

Grato aos amigos(as) que leem minhas breves palavras, mas nesta postagem percorram até o fim do texto, porque lá no fim, estará o fim e a conclusão. Abç
Blogueiro operado
O Dr. Luís P.
De família. Sim, o nariz era. Alongado, uma marca própria de berço, mas a apneia não o deixava dormir. Passando de carro por uma esquina viu uma clínica de otorrinolaringologia, na placa o registro e o nome do profissional Dr. Luis P. Que alívio! A especialidade médica que ia cuidar de seu problema. Ia dizer à mulher que podia dormir sossegada nos mesmos lençóis que comprou para ele. A mulher tinha insistido há muito com ele, mas o medo de injeções e de pós-operatórios o impediam, tinha pavor de sangue e desmaiava ao ver, mesmo que na TV. “Pra que um narizão, se num serve pra nada”, a esposa disparava. Mas aquela placa com nuvens brancas e um céu de azul sereno seria a alternativa: “Resolvemos seu problema e sua esposa vai adorar. Visite-nos”. Ele ia ter de entrar por aquele corredor de gerânios limitado somente pelo portãozinho da altura de um pulo e passar pela porta de madeira e marcar sua consulta.
                O médico foi dizendo “é praticamente indolor, viu. O senhor não vai sentir nada, nem a anestesia.  Anestesia, doutor!...Incomodou-se um pouco pela agulha. Dr. Luis continuou: Claro, uma agulha fininha, bem pequena, hipodérmica. Hipodérmica?! O paciente não entendeu, mas pareceu algo revolucionário à sua sensibilidade cutânea. Sempre usava esses termos de propósito, para demonstrar sua autoridade médica. Continuou o profissional: “...e quando acordar seu problema já era, completamente indolor, meu amigo, sem incômodo, o senhor volta andando pra casa, fazemos aqui mesmo na clínica. Vê! Nada de infecção hospitalar ou transtornos com colegas de quarto e aquelas visitas de família, entende. Não confia em mim?!” O cliente olhou em volta e a sala de tom verde claro como uma aguinha mansa lhe deu tranquilidade e os móveis quase lembrava a sua casa. A extensão daquela clínica era um ambiente quase doméstico e só faltava um gato andando pelo tapete e escondendo-se atrás dos sofás. Empenhou sua confiança e seus créditos a ele, o Dr. P.! Pê de quê? Faltaria à polidez se perguntasse, depois daquele colóquio amistoso. Conhecia o homem, porque saber o nome!
                Luis P. era simpático, confiante, convincente e dono de um nariz não menor que o seu, apesar de ser de outra família. Mas não pôs na placa o sobrenome. Os amigos que o conheciam socialmente, não de cirurgia, não desabonaram o Dr. Luis, era muito bom. Quis desistir no último momento – sonhava com o Dr. P. aplicando uma injeção rombuda e batendo nas coxas da secretaria a dizer rindo que mandou mais um para a funerária; mas a esposa lhe deu um ultimato - ou opera ou separa.
                No dia marcado estava lá. O médico chegou e o anestesista também. Despiu-se, tirou óculos, aliança, a medalhinha de São Jorge e pôs o roupão. Relutava ainda em aceitar, ia como um condenado. Deitou na maca branca e o anestesista lhe enfiou a injeção, ui. O médico de branco e com máscara à sua cabeceira esperava a dormência, plácido como um biólogo. Os aparelhos cirúrgicos ao lado, metais frios e duros, fórceps esquisitos, o bisturi afiadíssimo, pinças e outros com aquele cheiro típico da porta do além.  Não vai doer, né, Doutor?
- Não. Já menti para você?!...Ia já relaxando, mas a secretária abriu a porta e gritou:
- Dr. Pinóquio?
E ele de um salto gritou:
-!!!Pinóó...? Ah...o PÊêê... – e dormiu no colo do anestesista.
O cronista, que assim se nomeia, é autor de Crises do filho do meio e outros. Abç
 

Um comentário:

  1. Excelente conto, adorei, ainda bem que ele não soube o nome antes, ia ser difícil acreditar rsrsrs.

    ResponderExcluir

Seu comentário é valioso. Grato.