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O blog atém-se às questões humanas. Dispensa extremismos ou patrulhas. Que brilhe a sua luz. Bem-vindo e bem-vinda!

domingo, 2 de março de 2014

Ciclonauta

Amigos, bom carnaval a todos e grato aos órgãos da imprensa pela publicação desta inacreditável aventura. Saudações ao meu primo e inspirador Valdir, de Santa Terezinha. ahahah.
Blogueiro ciclonada
Ciclonauta
Meu primo é o melhor na pedalada. Se Pelé fosse ciclista e disputasse com o primo, não chegava a pôr a coroa. Deu algumas voltas incríveis o moço. De bike já cruzou trechos inimagináveis, mirabolantes, viu muitos amanheceres, deu volta ao mundo por duas vezes, subiu o Himalaia pedalando e desceu surfando. Meu primo já cruzou muitas vezes os horizontes e a barreira do som nas pedaladas, uma vez chegou tão perto da lua, na serra de São Pedro, que quase a empurrou para baixo. Empurrar não empurrou, mas ela bailou lá em cima. Pelo mundo, já se escapuliu de dragões de Comodo e de carros em ciclovias pintadas no asfalto, mas não de incômodos, como os assédios da NASA, para ele ser o primeiro ciclonauta brasileiro a dar um rolê na lua.
Estava saindo para pedalar quando os caras com carrão preto o quiseram cercar, mas ele evadiu-se perseguido, até que parou e enfrentou os gringos.
- Qué apostá uma, é? Então põe mai força nessa lata véia suas.
- Quer ir pro lua?
- Lua? Eu vô dizê proceis, carece não. A mor de que eu sei bem que aquilo é uma coisica de nada pra pedalá, que graça tem?
- No, a senhor vai ver que non.
- Como?
O gringo explicou melhor. Depois de solto o último foguete auxiliar, a cápsula de bordo vai pela inércia, atraída pela gravidade lunar, mas, no caso, ele ia pedalando até a lua, gerando energia aos propulsores, esse era o seu trabalho, e lá, no chão da lua o reconhecimento deixando a marca dos pneumáticos da bike por solo nunca dantes pedalados, onde nenhum homem jamais esteve, de bike, pelo menos.
- Aceito, mai, meu primo vai cumigo.
- Why, por quê?
- Sô privinido. Preciso de ajudante, se furá um pneu, e mai da conta ele escreve tudo que vê na viage. E vô usá capa preta, óculos escuros e, lógico, capacete meu.
Para descer o gringo nos instruiu que viéssemos pela via láctea, deslizando e depois, atenção, na reentrada em órbita da terra quando os corpos queimam, pedalar em marcha leve, dando voltas, até que os pneus se inflariam e do selim abriria um paraquedas para cairmos serenamente no rio, como chuva domingueira, ao lado da casa do povoador.
- E se errar o itinerário da lua?
- Vão pra Plutão - Gringo mal educado!
De lá de cima não conto porque é segredo da NASA, do mais revelo que quebramos a linha daquele menino sentado na lua minguante do Spielberg e quase batemos no menino levando o ET na bicicleta. Na reentrada da atmosfera, meu Deus! Balançava toda a lataria e meu primo pedalava, pedalava, nuvens e mais nuvens, uma garça, um anjo, uma cegonha sem-vergonha e nuvens, até avistarmos a chaminé do Engenho. Na atmosfera já, um engraçadinho acertou de boa mira um dos pneus infláveis e nossa trajetória foi parar no meio do mato, nos braços dos bonecos do Elias, enroscados na vara e linha de pesca que quebrou do menino da lua minguante. À margem fomos autuados por pesca na piracema. O seu delegado não acreditou nessa história, prendeu nossa bicicleta e nos deixou na mão, a pé e lá a lua a nos olhar... ciclonauta.
Divulgação:
O blogueiro é escritor nas horas vagas e o recente obra é Laços do Sertão.